quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sabores das Ilhas. Serpentinas


O progresso trouxe alterações profundas nos nossos hábitos alimentares, por vezes para pior.  Por ser  no seu  essencial  simples e baseada em produtos  naturais  sem quaisquer  aditivos químicos, muitas vezes cultivados no  quintal,  e na criação da casa, a comida dos nossos avós era  em muitos casos muito mais saudável, e também  mais barata. O próprio pão, sobretudo o caseiro,  por ser  feito de farinha  mais integral era de melhor qualidade.
Um exemplo dessa comida rural simples, mas de bom valor nutritivo é a serpentina. Agora que chegou a Primavera aproxima-se a altura de a procurar nos campos.
Serpentina é o nome dado nos Açores a uma planta que cresce espontâneamente nos campos na primavera e que é conhecida no continente por jarro-dos-campos. As suas raízes, tubérculos semelhantes aos minhotos (inhames pequenos),  após cozidas, são usadas, inteiras ou transformadas em farinha, na confecção de dois pratos típicos Açorianos: Serpentinas Cozidas e Papas de Serpentina.

Serpentinas cozidas
Os tubérculos, após limpos e lavados são cozidos, de preferência numa panela de ferro para não arder na boca, juntamente com erva azeda e temperados com sal.  Depois de cozidos, servem-se quentes descascando-os com as mãos e molhando em vinagre destemperado com vinho e misturado com  pimenta da terra moída. Podem  também ser comidos como acompanhamento. 
Serpentinas  cozidas  é um prato  a que alguns poderão torcer o nariz, mas para muitos são um bom petisco. Para isso é preciso saber escolhê-las, porque se não forem boas e macias provocam fortes picadelas e comichão na boca.

Papas de  serpentina
As Papas de Serpentina é uma sobremesa típica de S. Miguel preparada com farinha extraída de serpentina.   

Ingredientes
1 Litro de leite,5/ 6 colheres de sopa de farinha de serpentina, 5 colheres de sopa de açúcar, uma pitada de sal e canela q.b

Preparação das papas
Para fazer a farinha separam-se os tubérculos dos caules, limpam-se e lavam-se muito bem e ralam-se para um alguidar.Depois deita-se água, esfrega-se-se muito bem e deixa-se a massa no alguidar durante dias, escorrendo a água uma ou duas vezes ao dia. Quando a massa se apresenta bem branca, coloca-se num tabuleiro forrado com uma toalha e põe-se a secar ao sol durante uns dias. Depois de seca esmaga-se à mão até ficar granulada.
Para fazer as papas  mistura-se a farinha com o açúcar, junta-se um pouco de leite e com uma colher desfaz-se muito bem esta mistura. Depois junta-se o restante leite e passa-se por um coador para a panela. Leva-se ao lume mexendo sempre, quando ferver deixa-se cozer cerca de dois minutos, põe-se numa travessa e enfeita-se com canela a gosto.