O progresso trouxe alterações profundas nos nossos hábitos
alimentares, por vezes para pior. Por ser no seu essencial
simples e baseada em produtos naturais sem quaisquer
aditivos químicos, muitas vezes cultivados no quintal, e na
criação da casa, a comida dos nossos avós era em muitos casos muito mais
saudável, e também mais barata. O próprio pão, sobretudo o caseiro,
por ser feito de farinha mais integral era de melhor qualidade.
Um exemplo dessa comida rural simples, mas de bom valor
nutritivo é a serpentina. Agora que chegou a Primavera aproxima-se a altura de
a procurar nos campos.
Serpentina é o nome dado nos Açores a uma planta que cresce
espontâneamente nos campos na primavera e que é conhecida no continente por
jarro-dos-campos. As suas raízes, tubérculos semelhantes aos minhotos (inhames pequenos), após cozidas, são usadas, inteiras ou transformadas em
farinha, na confecção de dois pratos típicos Açorianos: Serpentinas Cozidas e
Papas de Serpentina.
Serpentinas cozidas
Os tubérculos, após limpos e lavados são cozidos, de
preferência numa panela de ferro para não arder na boca, juntamente com erva azeda
e temperados com sal. Depois de cozidos,
servem-se quentes descascando-os com as mãos e molhando em vinagre destemperado
com vinho e misturado com pimenta da
terra moída. Podem também ser comidos como acompanhamento.
Serpentinas cozidas é um prato a que
alguns poderão torcer o nariz, mas para muitos são um bom petisco. Para isso é
preciso saber escolhê-las, porque se não forem boas e macias provocam fortes
picadelas e comichão na boca.
Papas de
serpentina
As Papas de Serpentina é uma
sobremesa típica de S. Miguel preparada com farinha extraída de serpentina.
Ingredientes
1 Litro de leite,5/ 6 colheres de sopa de farinha de
serpentina, 5 colheres de sopa de açúcar, uma pitada de sal e canela q.b
Preparação das papas
Para fazer a farinha separam-se os tubérculos dos caules,
limpam-se e lavam-se muito bem e ralam-se para um alguidar.Depois deita-se água,
esfrega-se-se muito bem e deixa-se a massa no alguidar durante dias, escorrendo
a água uma ou duas vezes ao dia. Quando a massa se apresenta bem branca,
coloca-se num tabuleiro forrado com uma toalha e põe-se a secar ao sol durante
uns dias. Depois de seca esmaga-se à mão até ficar granulada.
Para fazer as papas mistura-se a farinha com o
açúcar, junta-se um pouco de leite e com uma colher desfaz-se muito bem esta
mistura. Depois junta-se o restante leite e passa-se por um coador para a
panela. Leva-se ao lume mexendo sempre, quando ferver deixa-se cozer cerca de
dois minutos, põe-se numa travessa e enfeita-se com canela a gosto .