A identidade própria do modo de falar micaelense está presente não só no
seu sotaque típico, mas também na riqueza de palavras e expressões
populares que, juntamente com alguns aspectos gramaticais, como o o uso intensivo do
gerúndio, lhe conferem um colorido expressivo único.
Alguém mais
atrevido, safado ou velhaco é um corisco, se é
desleixado ou desajeitado é mal-amanhado, é
um corisco mal-amanhado! Se se trata de alguém de quem não se gosta
é um corisco negro, um vargalho, um laparoso e
se a intenção é insultar e chamar nomes é um babou,um baboso,
um atoleimado, um zabela, um
naiã (naião) que o quer é mamá (mamar)! Mas
se é um amigo do peito, é um braçado e se é
muito querido, é um binsuado (abençoado) ou
um sagrado. Diabo é diacho e dianho.
Se alguém
está a maçar, está atramoçando ou está
cegando e quando não estão para o aturar dizem que não
o vão sofrer. Moer a paciência é seringar, meter-se com
alguém é intenicar e uma pessoa que chateia é cegona.
Alarmar
é desinquietar, andar numa roda viva é andar
numa dobadoira e deixar é largar da mão. Se
fica calado e sem saber o que dizer fica embatocado, se tem cautela fica na retranca. Ficar de olhos em bico é ficar
de olhos arregalados e se se habitua a fazer algo, fica
avezado.
Sabedoria é sabedura , palermices e
conversas parvas são baboseiras, não ter juízo é não
ter tarelo e falta de juízo é destarelo. Do tolo
dizem que não é muito discreto, se é discreto e
sensato dizem que é arrematado e se dizem
que é discreto é porque é esperto e inteligente.
Se é parvo e não atina, é palhoco, paspalhão ou
patrazana, se é ingénuo é trouxa e
se é burro dizem que é arruda da cabeça.
Disparate e falta de propósitos é desarremate,
disparatado e impetuoso é desarrematado, e uma
mulher d’arremate e da sua porta para dentro é uma mulher
sensata, ordenada na sua vida. Quem anda
desatinado anda desarido, se está maluco
está pegado da cabeça ou cismado, pronto
para ir para o Egipto, como chamam ao manicómio.
Em vez de gemer com dores dizem ganir com
dores. Palavrão é má-língua, descarado é bispeta,
inconveniente é desabusado e mariola
é mormo. Quem é sociável é
dado e quem é teimoso é teso da verga. Quem é acanhado
é bicho do buraco e quem anda triste e
abatido anda esmorecidinho de todo.
Pessoa má é ruim e se não te fala está ruim contigo. Se anda mal disposto anda embezerrado e se
anda amuado anda
de beiças. Um estroina é arrebentado da cabeça e se é cabeça no ar é varela
da cabeça. Andar perdido de amores é andar
embeiçado e se anda no namoro anda
no derriço. Se
está metido em trabalhos está encalacrado, e se é bem comportado e educado dizem
que é bensinado (bem ensinado). Fazer
um mandado é fazer um recado e não ter
necessidade é não ter precisão.
As amantes são amigas e se vivem juntos sem
serem casados são ameigados (amigados). Ao marido
chamam “o meu” e à esposa
“a minha”. As
sogras são as madrinhas e
os idosos são tios e tias. A uma desconhecida chamam
“Ti’ áquela” e ir visitar a tia é ir à da tia. Para pedir a benção dizem “Subença!”
Ao baloiço
chamam arredouça e quando não sabem para onde se virar andam
com a cabeça numa arredouça. Quem anda desconfiado anda
malino e quem as faz pela calada é moquenco. Baixar é arriar, agachar-se é amouchar e dar couces é escoucinhar.
Dizem a tenda do barbeiro e do sapateiro, um homem com ofício é um mestre e as ferramenta são os apetrechos. Se não tem jeito é aselha e se é coisa mal feita é emplastro. Trapaceiro é trafulha e se é um patife é um gabiru(um). Surripiar é garimpar, roubalheira é ladroage (ladroagem) e
gente que não presta é farelage (farelagem).
Aos
problemas chamam molestas (moléstias) e se não
há problema dizem que não há
moléstia nenhuma. Depressa é numa
arage (aragem) , se vai a correr vai na guita, fugir ou safar-se é
pisgar-se e de uma só vez é de
uma vezada. Um grande transtorno é uma grande espiga, pouco é poucachinho, uma coisinha de nada é uma
nisca ou niquinha
, muito é podris (poderios) e se está muito cheio, está acaculado (acogulado).
Desmaio é fanico, flatulência é flato
e com
falta de ar é aflatado. Estar constipado, é ter defluxo, vomitar é lançar
e ter diarreia é ter soltura. Uma doença
pequena pode ser um malzinho e
medicamento caseiro é mezinha.
Os rins são as cruzes e se tem dor de rins, tem dor
nas cruzes. Inchaço é mamelão,
uma ferida é uma pisadela se tem a cara arranhada está com a cara
esgatanhada. Se está a sangrar, está botando picos de sangue e quando
está a magoar dizem que está
pisando.
Quem
está bem está-se
consolando ou arregalando e quando a situação é insuportável dizem que é de arder. Se sabem que alguém não vai bem, perguntam se
se está
aguentando e se querem dar
uma força dizem “Aguenta-te sempre!”. Quando
a vida não corre mal, vais-se amanhando ou vais-se safando, mas se
dizem que estás bem amanhado é porque estás lixado.
Cabeça é toutiço, e o nariz as ventas.
Quando te ameaçam com uma tareia dizem que te vão partir
as ventas ou escarolar todo e se te
insultam furiosos dizem “Fogo te abrase!”. Bater em alguém é cabedar e
levar uma tareia é levar um
enxerto. Vara é vardasca e bater com uma vara é verdascar.
Em vez de “haveria” dizem “havera” (houvera)
e se o cão morde , dizem que o cão pega. Corrente de ar é vento encanado, ao tempo ruim chamam cadelo, tempo abafado e húmido é mornaça
e ao vento frio do
nordeste chamam mata vacas.
Lama é lameiro e se está enlameado,
está enlameirado. Parar de chover é escampar e se está um nevoeiro cerrado dizem que está cheio de neve. Para se
abrigarem da chuva põem uma saca pelo capelo.
Surdo é
mouco, sorrateiro é lapareiro, malvado é desalmado, atinar é botar sintido (sentido) e pôr-se a caminho é botar-se
a caminho, também dizem botar sentido , botar faladura e botar contas à vida.
Fazer
troça é fazer escárno (escárnio) e do trocista dizem escarnento. Ficar
furioso é ficar danado, ter raiva é ter reixa, ter paciência é ter aço e ter preguiça é ter lazeira. Para mandar
embora, dizem “Arreda-te daqui para fora!” e
para arredar dizem “Foge diante! (de
diante)”
À
esquina e ao largo chamam canto e uma tribuna é
um palanquim.
Destruido é esborralhado, cordéis são atilhos e
fita é cardaço. Ao pénis chamam blica , à vagina pinta, ao rabo rabichel, às
costelas aduelas e os
lábios são beiços. Levar uma
chapada é levar uma mão de beiços. De pernas abertas é escarrapachado, de
pernas amarradas é peado. Coisa fraca, ou
pouco resistente é melindrosa e ao toque de
finados chamam sinais.
Nas
vendas
o vinho bebe-se aos meizinhos e vende-se ao quartilho
e à meia
canada. O álcoool e o azeite
vendem-se ao dezasseis.
A aguardente, o escachado e o abafado
bebem-se aos calzinhos e um calzinho pela manhã é o mata-bicho. A aguardente de vinho da
região é aguardente da terra e o
vinho é de cheiro, se é vinho do
continente chamam-no tinto. Ao mosto chamam vinho doce. Se está borracho dizem que
já vai quente. Um maço de cigarros é uma carteira e uma pacote de dez maços uma cabeça.
Chegar
perto é chegar rente e se está junto, está apegado. Um ninho é
um ninheiro, canicão é erva daninha, as hostênsias são novelãs e os restos de comida para o
porco são as lavages (lavagens). Guardar é arrecadar,
espreitar é bispar ou espiolhar, estar à espreita
é estar à coca e aparecer é assomar. Estar atento é dar fé, empatar é
engonhar e destruir é escangalhar. Ir direito a é embicar, estrangular é esganar
, apertar é espichar, descascar
é esburgar e borbulhar é babujar. Lamber é
lambuzar, sujar é besuntar e pegasojo é
peganhento.
Em
vez de “Ora
essa!”, dizem “Ó’messa!”
e a
uma grande parvoíce
respondem “T’á asno!”. “Quem me
dera ...” é “Quem
me caçara...”, “Deus me
livre!” é “Pelo’ê!”
, “De qualquer forma” é “Assim c’má'sim”
e ” Por causa de” é “Por mor de”. Em vez de “Enganas-te!”
dizem “’T’ás mal enganado!”, em vez de “Acontece
que...” dizem “Segue-se que... e dizem “Olariques!” em vez
de “Olaré!”. “ Por
exemplo ...” é “Em
comparação...” , e para
perguntarem onde está, dizem “C’á dele?. “Haja saúde!” é uma saudação
vulgar, “Filhas credo!” é uma exclamação de surpresa, e “Pois alevá!” de resignação.
Exclamam “Pudera!” se é evidente e
“Já se sabe!” se a
coisa é certa. Se é mesmo a sério, dizem
que é mesmo de veras, se não te aconteceu como contavas, dizem que te mijou o cão no caminho. Pintar
a manta é pintar o caneco, ir lá-lá é
dar um passeio às crianças e ter no sentido é ter na memória.
Aldeia
é freguesia e não dizem “da
minha terra”, mas “da minha freguesia”.
Quem é
do campo é de fora-da-cidade e um amigo de infância é da mesma criação. Quem não
tem sotaque de S. Miguel
fala à moda, quem é de outra ilha é das ilhas, os do continente são de Lisboa e os
Americanos são calafonas. Se é da Água de Pau é donde a porca furou o pico e se é da Vila Franca é da Vila. Os de Santa Maria são cagarros e os da Terceira
rabos tortos. Se é bem
falante, é uma língua destravada ou cheio de palheta , cheio de graça é cheio de pilera, um fala barato
é uma língua destramelada e de quem
está sempre a repetir o
mesmo dizem que é como a música da Relva, o mesmo e mais forte. Sempre
a mesma coisa é o mesmo ramerrão.
Aos terrenos chamam terras
e
as terras são medidas às quartas, aos alqueires e às varas. De um terreno que confronta com
outro dizem que entesta. Trabalhar
no campo é trabalhar na terra. Uma enchada é um sacho,
mondar é sachar, estrume é esterco
e estrumar é estercar. Fazer
sementeira de Outono para enriquecer a terra é outonar. À horta chamam quintal, um campo pequeno é um cerrado,
uma pastagem é um pasto, as chãs
são fajãs, e as vinhas na encosta são as rochas. As ribeiras são grotas, se é uma grota pequena é um grotilhão, os caminhos terreiros são canadas
e em vez
de pocilga
dizem pátio do porco. Ao
palheiro chamam cafuão, as tocas são louras.
Transportar é acartar
e uma carga é um carreto. Para transportar cargas no burro usam um seirão e para carregar a carroça uma a sebe e fuêros (fueiros). Levar uma fuêrada (fueirada) é levar
uma pancada com um pau. Um canguite é
para atrelar uma parelha de bois na carroça, uma brocha é para amarrar a canga ao pescoço do boi e os
utensílios para atrelar o cavalo na carroça são os arreios. Se
montam a cavalo com uma albarda, sentam-se de lado e andam
a cavalo numa carroça, numa camioneta ou num
automóvel.
As
vacas são as reses e aos novilhos
chamam gueixos. Um gueixo de cobrição
é um toiro, uma vaca ainda não
parida é uma gueixa, se está cheia é porque está prenha e se está coberta é porque já tomou boi. Se vão tratar dos
geixos, dizem que vão para os gueixos e se vão tratar das vacas, vão para as vacas. Ordenhar as vacas é mamar as vacas. O úbero da vaca é o mojo
e uma vaca sem cornos é moucha. Bilha de leite é latão, se é
pequena é uma lata. Um leitão é
um marrão, um ratinho
um morganho, uma doninha
uma comadrinha e as gaivotas
são garças. Éguas cavalos e mulas são bestas,
patos e gansos são marrecos, teias de aranha são paranhos e qualquer pássaro
é um melro.
Jardineiras
são alvarozes, camisola é suéra, casaco é jaqueta, peúgas são soquetes,
boina é pirata , cuecas de senhora são calcinhas e um pano velho é uma rodilha. Asa de brinco é arça, calçado artesanal
de madeira são galochas, se são mais
simples são tamancos ou tarolas,
sandálias artesanais são albarcas (alpercatas),
chinelos são sulipas e botas
de borracha são botas
de cano. O autocarro é a camioneta,
o táxi
é carro de praça e o
motorista é o choufér.
Fardos
de palha são malotes, os pés do
milho são milheiros e os sabugos
carrilhos. As maçarocas são
amarradas em manchos e penduradas
para secar em toldas, com os milheiros fazem o fescal (frascal) da
arribana. Lenha miúda são gravetos e um feixe é um molhe. Tábuas de refugo
são costaneira e à serradura
chamam farelo de serra.
Se a cor é
forte é arregalada, se é cor de
laranja é amarelo torrado e se é grenat é cor de cravo. Bodum é
cheiro forte a bode, fedor é mau
cheiro. Em vez de “Que
pivete!”, dizem “Que peste!” e
se tem ar de enjoado é fedorento. Entretanto é entrementes, enquanto
é imentes e em vez de então dizem entances. Sair do trabalho
é despegar o trabalho, trabalhar à
jorna é dar dias e o salário é a féria.
Coisa linda é coisa asseada, bem
vestido é aperaltado, enfezado é entanguido. Se
não está decente dizem que está descomposto e se está
está despido está em couro. Se está cheio de fome
tem fome negra ou está esganado, mas
quando dizem que é esganado é porque é
interesseiro ou sovina. Se não tem apetite é
biqueiro.
Pessoa gorda é begoucha, um rapazinho é uma
nisca de gente, mulher pequena é piorra, se é estouvada é arvela e se é de má fama é um testo.
Uma boazona é uma bela fema ou uma bezuga e se é bonita é requinha (riquinha). Uma inquietação é
apoquentação, uma zanga e uma
briga é uma arenga e uma bulha, uma confusão um deremunho, uma arressaca , um leilão ou
um chamatão e um tumulto um
alevante.
Guardam
a água em talhões, a banha em boiões, salgam a
carne e as pimentas em balsas e os
chouriços e as morcelas são fumados em sarilhos. gua
espalhada pelo chão é alagariça, uma torneira é uma fonte, um balde de madeira uma selha, os
fósforos são palitos, acendalha dos candeiros e dos esqueiros é torcida, as molas de roupa pregadeiras e passar
a ferro é correr roupa. Aos desenhos animados
chamam macaquinhos, às histórias casos
e às mentiras petas,
Cacos são testos, os afazerers são
os terminos, uma forma para bolos é uma pana, uma
esfregona uma mapa e à arca congeladora chamam friza. Os
charros assam-se na sertã. Bolos
de massa frita são malassadas, as vísceras dos animais é a fressura,
caçoula é guizado com as miudezas do porco (bofe, coração, fígado, baço)
, debulho é cozinhado de sangue
de porco, figado, cebola, salsa e condimentos, as batatas escoadas são
cozidas com pimenta e sal, ao chá de Lúcia-lima chamam Maria Luísa,
às papas de carolo também chamam papas de cachão, papichas são as bolas
de farinha para as couves com massa, uma carcaça é um papo-seco,
banha é graxa, gordura é unto e barrar
o pão é untar o pão. Ao tubérculo
do jarro do campo chamam serpentina e comem-nas cozidas com àgua e sal
ou esfarelam-nas para fazer papas de serpentina. Dizem frigir em
vez fritar, sopas de pão é
pão migado e conduto é o que come com o pão. Pastilhas
elásticas são gamas, rebuçados são candiles,
Sótão
é falsa, toucador é psiché, mesinha de cabeceira é escaparate mesão de cozinha é pial, portinhola de ripas é cancela, trinco
de madeira é tramela e um lavatório de ferro é uma aranha.
Ao penico chamam bacio, à chupeta
bico e a uma esteira capacho.
Dormir no chão é dormir a lastro, um travesseiro
é um cabeçal, a uma cama de ferro chamam barra
e a uma cama de rede esporim. O balcão de um estabelecimento comercial é o mostrador.
Atirar é aboar, trepar é guindar,
constar é zoar, congeminar é indrominar, tropeçar
é dar topadas e correr desenfreadamente é correr como
um desalvorado. Arranjar é amanhar, mas
se diz que precisa de se ir arranjar é porque
precisa de ir à retrete. Se anda com grande vontade, anda
deserto ou está com ganas e se
gosta muito de uma coisa pela-se por ela. Às
danças chamam balhos, à gaita charamela e
as cantigas dos populares são modinhas.
Confissão é desobriga encosta é
ladeira, acima é arriba e em vez de além do mais,
dizem ainda por riba. Ir em frente é ir adiante, comprar é mercar,
andar à procura é andar à cata. Dar cabo de alguma coisa é escarolar, desaparecer é sumir-se,
esconder-se é encafuar-se,
inventar é enjorcar. Em vez de pensar dizem cuidar, se não acerta dizem
que não encarreira e se está mal dito
ou mal pronunciado, está estropiado
Ao Epírito
Santo chamam simplesmente O Divino
e ao símbolo na bandeira a Pombinha. As festas do Espírito Santo, as
mais populares dos Açores, são os Impérios e quem as organiza são os mordomos.
Ao cortejo do Espírito Santo e à cerimónia de concessão da graça do Espírito
Santo na Igreja chamam Coroação, ao almoço do mordomo chamam Sopas do
Espírito Santo, as ofertas do
espirito santo (carne, massa
sovada, pão e vinho) são as pensões
e os grupos de cantares do Espírito Santo são a Folia. O sorteio das domingas do Espirito Santo são as sortes, mas ir às sortes é ir à inspecção para a tropa. Aos foguetes chamam roqueiras, os que têm um rebentamento
mais forte são bombãs, e ao fogo de artifício chamam roqueiras de lágrimas. Se a festa é
grande é de mandar peso.
Ao escudo chamavam pataca, cinquenta
centavos eram seis tostãs
(tostões), vinte centavos
uma serrilha, dez centavos seis vintãs (vinténs). Assim
o diz estas quadras populares:
Menino se
sabeis ler/ Fazei-me bem esta conta/ Quatrocentos guardanapos/Seis vinténs em
cada ponta.
Ó
minha rica menina/ Sou embaixador das ilhas./ Quatrocentos guardanapos/São
oitocentas serrilhas.
Há também uma enorme variedade de palavras e
expressões populares que são fruto de deformações linguísticas oriundas da
língua falada. São exemplos: aguentar, aguerrar, ajuntar, alembrar, alevantar,
alomear, amandar, esmirrar, arrebentar, arrecear. arreceber, arrecuar,
assuceder, assentar, assoprar, assubir, estralar
açucre, amarcano, impanho,
intances, inté, papeles, selada
Muitas destas palavras e expressões estão presentes
nas modinhas do folclore local, como nestas sextilhas humorísticas
do Pezinho da Vila:
Fui à Água de Pau
O vinho não era mau
Sete vezes molhei o bico
Diga lá T’i Maria
Se foi nesta freguesia
C’a porqca furou o pico.
Nasci numa sexta-feira
Com bigode e cabeleira
M´ás parecia um anti-Cristo
Qu’inté o Sr. padre cura
Qu´é home de sabedura
Nunca tal havera visto.
Minha sogra tem-me reixa
Que de mim foi fazer queixa
À vila da Povoação
Por eu ter chamado à filha
Papo-seco de serrilha
Bom petisco da manhã.
Eu fui à beira da rocha
De sapato e uma galocha
Ver se o mar estava manso
Encontrei uma garoupa
Toda enrolada em roupa
A dormir no seu descanso.
A filha da tia torta
Que não entra, fica à porta
Foi ter comigo ao moinho.
Atirei-lhe uma palanca
Acertei-lhe certo na anca
Vai-te burra p’ró caminho.
Eu venho lá dos Arrifes
A comer pão com bifes
E tamã galinha assada
Rapá não m’atramósses
C’agora só tanh’é ossos
Tu daqui não levas nada.